Ativar Ilha do Príncipe
Endereço: Av. Alexandre Buaiz, Ilha do Príncipe Cidade: Vitória Período: 2019 a 2020 Proposta: Requalificar a entrada sul da cidade, a partir de narrativas projetadas de dentro para fora do bairro. Pessoas envolvidas: Lideranças formais e informais do bairro, comerciantes dos bares, lanchonetes e bazares dos térreos das edificações, moradores dos prédios, pedreiros locais, lideranças jovens do bairro, crianças em idade escolar.
Murais visibilizam um bairro que já foi ilha e agora é um portal de entrada da cidade.
2020 foi o ano de ancorarmos na Ilha do Príncipe, numa imersão nesse bairro tão tradicional de Vitória, que já foi uma ilha e hoje é cheio de histórias. O local, agora, é palco de um grande mural, dando as boas-vindas a quem chega à Capital pela rodoviária de Vitória ou mesmo vindo pela entrada sul da cidade. Um projeto que só foi possível pela dedicação de tantas mãos e por um processo participativo que articulou uma rede local.
E não dá mesmo para passar despercebido pela região. Nosso projeto "Ativar Ilha do Príncipe", coloriu 1.311 m², divididos em 11 edificações, resgatando as memórias e histórias do bairro, ao mesmo tempo em que permite a interação com a população por meio dos celulares.
Todos os murais foram pensados dentro de três temáticas: "Travessias", simbolizando a passagem do tempo e a história do bairro, quando ainda era uma ilha; "Marias", representando a força da mulher negra, bastante presente no bairro, com histórias de resistência e esperança; e "Joias", que fala sobre a juventude negra por meio de uma homenagem ao jogador de futebol de areia da seleção brasileira Joia, morador da Ilha do Príncipe e que foi assassinado em um beco.
Vivências
Como fazer com que esse mural seja representativo para alguém da Ilha do Príncipe ao mesmo tempo em que se comunica com toda a cidade?
Estamos falando de um bairro que em 2026 completará 100 anos e que passou por grandes transformações urbanas, entre elas o fato de ter deixado de ser ilha para se tornar uma península, cercada de avenidas.
Consultando documentos históricos, jornais antigos e comunidades de bairro no Facebook, acessamos parte dessa história. Tudo começou em 1926, quando se deu início à ocupação da Ilha do Príncipe por operários que trabalhavam na construção da ponte Florentino Avidos (Cinco Pontes). A partir disso, outras pessoas passaram a morar na ilha, vindas do norte, nordeste e do interior do estado.
Nossa jornada passou por reuniões comunitárias e entrevistas com moradores em um processo que durou cerca de 6 meses. Durante o processo criativo, no empenho de realizar um resgate histórico, criamos uma linha do tempo, formada por fotos históricas, vídeos, postagens no Instagram e Facebook com memórias do bairro, rascunho, entre tantos conteúdos. Entendemos que esse seria um material importante para sair dos bastidores da pesquisa e chegar até o público, sobretudo a comunidade escolar.
Foi assim que surgiu a ideia de criar uma linha do tempo interativa em Realidade Aumentada, que tornasse esse conteúdo acessível da calçada, a partir do app Made in China, como uma espécie de wikipedia do bairro.
Posteriormente foi criado o projeto Ilha do Príncipe Aumentada, para difusão dos conteúdos educativos gerados, que teve como produto uma cartilha, o site ilhadoprincipeaumentada.com.br e formações de mais de cem professores de Vitória.
Fotos: Francisco Xavier (@chicow_dp)
Criação
O projeto contempla fachadas de 11 edificações situadas em avenida em frente à Rodoviária de Vitória. Foram retratadas narrativas encontradas na Ilha do Príncipe, que revelam para fora aspectos da sua identidade.
TRAVESSIAS
Trecho inicial que compreende as 3 primeiras edificações e aborda a passagem histórica desde a ocupação do bairro em 1926, e a conhecida travessia de catraia.
Desde quando a Ilha do Príncipe era uma ilha, até os tempos atuais se deram amplas transformações urbanas e o bairro se integrou ao continente e é afetado por novas dinâmicas portuárias.
JOIAS
Desde que chegamos à Ilha, ouvimos diversas histórias de pessoas que fizeram e fazem a diferença na comunidade. No trecho Joias nós resgatamos a “história de uma joia rara", o Joelson dos Santos, jogador de futebol de areia da seleção capixaba e brasileira, morador da Ilha do Príncipe. Joia teve sua vida interrompida pela violência no começo dos anos 2000, mas sua trajetória deixou não só lembranças como reflexões sobre os dribles que a juventude negra precisa fazer para se manter viva e progredir.
“Joia era tranquilo e consciente de tudo. Dentro de campo era sempre o líder. Até criança, quando só brincava de futebol, ele comandava a equipe, já sabia se impor”, conta Seu Paru, pai do Joia.
[Depoimento retirado do livro ‘A história de uma joia rara’, de Elayne Batista e Tatiana Ribeiro].
MARIAS
Entre Jóias e Marias, tantas vidas negras que deixaram e deixam até hoje o seu legado de cuidado e persistência, reforçando o quanto as vidas negras importam.
Durante a imersão que fizemos no bairro, Maria de Lurdes, conhecida na cidade como Maria Tomba-homem, aparece como a figura feminina de grande destaque na memória coletiva.
Pelos poucos registros da época em que viveu entre os anos 40 e 50, seus traços físicos eram marcantes, usava tecidos de chita e bijuterias.
Além de valente, os moradores contam que ela distribuía sorrisos e generosidade pelo bairro. Seu apelido, no entanto, refere-se ao fato de ter enfrentado homens que ameaçavam a ordem e faziam arruaça na região do seu bordel. A fama dessa Maria transbordava a Ilha do Príncipe, a Cinco Pontes e tantas outras pontes.
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Ficha técnica
Este projeto foi realizado pela Cidade Quintal com recursos do Fundo Municipal de Cultura de Vitória e apoio da Prefeitura Municipal de Vitória por meio do programa A Arte é Nossa!
Vitória-Espirito Santo
2020
Coordenação Geral
Juliana Lisboa
Renato Pontello
Pesquisa
Maria Luiza de Barros
Giselle Soares
Criação
Juliana Lisboa
Renato Pontello
Assistente de criação
Iara Ribeiro
Produção
Iaiá Rocha
Oficineiros
Fell Araújo
Alegria Falconi
Gabriel Hendrix
Carlo Schiavine
Elvys Chaves
Pintor mentor
Patrick Trugilho
Pintores
Camila Correa
Iury Borel
Fell Araújo
Ruan Oliveira
Jefinho
Animações e realidade aumentada
Made In China
Audiovisual
Karatapa Films
Fotografia
Francisco Xavier